domingo, 30 de abril de 2017

o único beijo de j.

nós éramos adolescentes, livres, leves e loucos. gente com poucas responsabilidades, mas cheios de vontades, desejos, curiosidades...

eu cabaço em pessoa, nunca tinha nem sentido a mão de uma garota, mas minhas mãos trabalhavam, enquanto eu pensava nelas de todas as formas e jeitos. andando de vestido voando, as pernas de fora, e eu do lado de fora querendo ver uma ponta de calcinha, e por aí vai.

nessa coisa toda, apareceu j., uma negra baixinha e gostosa, linda, e que tinha beijado um garoto da rua. ela gostava dele, sempre falava como ele era especial. ela estava apaixonada e sabia disso.

aquela noite foi meio louca. depois da janta eu fui pra rua procurar j., e ela estava lá, no mesmo lugar de sempre, ao lado da sua casa, no fiteiro. e na frente da sua casa tinha um poste, que entregava tudo. cheguei de banho tomado e tudo. passei um perfume que meu pai usava.

nossa conversa foi quase como a de sempre, ela falava sobre ele, e eu só escutava, e olhava para ela com carinho e pena. no meio da conversa a gente se beijou, senti a língua quente e molhada tocando a minha boca, fiquei de boca aberta querendo mais.

não tive coragem de dizer algumas coisas, fazer uns elogios mentirosos e trepar com j., e deixar ela pensar que estava tirando minha virgindade. mas já era tarde pra nós. eu não era mais virgem, mas meu primeiro beijo de boca foi com j., e eu nunca vou esquecer.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

teus olhos.

olhos tristes, pretos e vivos.
olhos de amor, de paixão...
cheios de coisas que ninguém sabe, só você.
olhos que enxergam beleza onde ninguém ver.
olhos que não escondem nada
inclusive verdades sobre você.

dedicado a alguém,
que eu não posso dizer.

chuva.

Começou a chover, uma chuva pequena, tímida, mas não deixa de ser boa. A chuva sempre é boa.
E que seja lavada a tristeza toda, e desça pelos ralos da vida.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Fígado.

Minha mãe faz fígado toda semana, por duas vezes. Uma em forma de bife, n'outra em pedacinhos.
Gostosos os dois, com arroz, salada, e uns molhos com limão, azeite e etc.

sons.

estou ouvindo sinos... pianos? sei lá o que é isso. mas eu sei que é bom. essa coisa toda me deixa meio confuso, mais do que já sou. não entendo nada. mas tudo isso vai pra dentro.

domingo, 2 de abril de 2017

no teatro.

Estava todo mundo lá, o teatro não estava nem cheio, nem vazio, e tudo cheirava bem, até os banheiros.
Me sentia triste, é costume, e fiquei sentado sozinho. Lado esquerdo o corredor para passagem, lado direito uma cadeira comigo, e tantas outras também. Usava a melhor roupa que eu tinha, camisa polo, calça jeans um sapato marrom claro, com meias por dentro que combinavam. Eu me sentia um idiota.
 
O artista entrou.
 
Na frente tinha um casal cochichava alguma coisa, acho que o cara só queria comer a menina, e deve ter gasto uma certa quantia pra isso. Tem gente que se resume a isso, fazer por onde ter sexo. Atrás duas mulheres, pela voz meia idade, um pouco mais, elas falavam entre uma música e outra - oh! essa é boa.
 
E lá estava eu sem entender nada, mas prestando atenção, e o cantor de repente parou.
 
Alguma coisa na performance era interessante, e eu só queria sair dali pra mijar e acender um cigarro com uma cerveja na mão.

sábado, 1 de abril de 2017

meu avô antônio






meu avô antônio,

quero te ver num final de semana qualquer, falar contigo algumas coisas, na verdade, tantas coisas, mas você foi embora cedo e não me esperou, nem deveria mesmo, nem eu esperaria por mim. e essa saudade do que não tive dói demais por aqui.

as vezes fico imaginando o senhor me chamando e pedindo algo que não quero fazer, dizendo o que não quero escutar, me olhando com seus lindos olhos castanhos e cheios de moral, chamando por nosso nome...

penso em nós como bandidos e irmãos, sabe aquela coisa de água e vinho, cachaça e cerveja? nós somos diferentes, e por isso somos tanta coisa. somos tudo aquilo que a gente precisa ser um pro outro.

meu avô,  lá no fundo das coisas, no baú da vida que a gente carrega nas costas, penso em você quando posso. no encontro olho no olho, na tua camisa de botão, no teu par de óculos... e em tudo mais que eu não preciso dizer, que é tudo mais daquilo que eu quero.


do teu neto que te ama, e nem te conhece
você.