segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Duzentos gramas de salame e dois pães.

Fazia tanto tempo que não ia à padaria, o que quase me fez esquecer do cheiro do pão quente, aquele pão de derreter manteiga. Apesar dos primeiros dias do horário de verão me deixarem meio sem noção do tempo (me oriento pelo sol, o que é até fácil - crepúsculo matutino - meio-dia - crepúsculo vespertino, fui a padaria comprar o pão ao fim de mais um dia, mas ainda era muito claro para ser fim do dia. E na fila do pão quente conheci a menina J, com seus cabelos curtos e um par de óculos, que estava meio agoniada entre pedir duzentos gramas de salame e dois pães; um smartphone que insistia em tocar e um atendente que tinha caído do berço.
Sorri leve e silencioso, e pelo vidro que estava acima da cesta de pão, ela flagrou, olhando minha cara estampada. Com certa raiva acima das costeletas, perguntou se eu achava sua agonia engraçada. Respondi que não, mas que sempre sorria pra tudo aquilo que não entendia.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

"Ela e sua janela"


Quase sempre meio lento, e nos mesmos dias de horas iguais, vou passeando pelas ruas do "condomínio", e tentando me livrar do tédio que é não chegar em casa, retiro dos pés um pouco da atenção, e a jogo nos sons das casas e apartamentos. Vez por outra desvio o olhar do caminho tão conhecido, e procuro alguém descendo escadas, outro alguém largando o lixo na calçada, uma sala vazia ao som de uma luz acesa... Ou alguém numa janela, com olhos tristes como quem toma café da manhã em solidão, e só consegue olhar para uma parede vazia, quase desbotada e sem cheiro.
Hoje minha vista foi invadida por uma morena e sua janela. Ela e seus cabelos crespos, tão bonitos que de certa distância cheguei a sentir o cheiro, e um par de olhos soltos na rua, que soltavam faíscas carentes.

E no ouvido: Chico Buarque - Ela e sua janela. Música que veio à mente, no instante que pousei os olhos na morena do cabelo crespo.

sábado, 5 de outubro de 2013

Minha vó

Sempre lembro da minha Vó, Dona Ruth. Ela era linda, parecia mais uma "artista de cinema", como dizem... Quase sempre deitada em sua cama, minha Vó lia gibis, e tinha sempre uma vela por perto. Gostava de reclamar das coisas, ela reclamava muito das coisas, eu acho. E era tão linda, ow. Tão linda como uma flor de cor azul ou vermelha, era minha Vó Ruth, linda de morrer.
Meu avô, Sr, Wilson, gosta de fotografia, teve até um laboratório em casa, onde revelava as fotos da família. E ele fez um retrato da esposa, que é lindo. Esse retrato tá guardado aqui na cachola, para eu sempre lembra de bons momentos, e de como minha Vó era linda.
Eu e meus primos vivíamos ensandecidos na casa da minha Vó Ruth. E roubávamos "leite de moça", chupando manga no pé, e comíamos jambo, enquanto corríamos no oitão, fugindo das vassouradas da Tia Rita. Puta que pariu! Era muito bom.
Houve uma época que minha irmã, que carrega o mesmo nome estudava perto de lá, e sempre almoçava com ela. E no quarto da minha Vó, havia uma foto da minha irmã bem pequenina, com seus cabelos loiros, quase brancos feito cal. Minha irmã adorava esses dias.
E minha Vó Ruth esta entre tudo e todos, e da cama, minha Vó Ruth era assim, comandava uma casa inteira e uma família. 
Das tantas mulheres que cruzaram meu caminho, poucas foram tão lindas como minha Vó Ruth, não só por ser linda em aparência, mas por ser linda por ser uma mulher de pulso forte.

PS: O retrato em preto e braco fico devendo, a espera do meu Tio Renato.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A rede

Quero uma rede para deitar minhas costas e o resto, e com vista para uma janela, que não precisa ser grande nem pequena, só precisa ser janela, eu possa olhar... Quero a rede solta, que venha feito vento doido, e todo solto, faça marca e fira a carne, para se perceber.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Pimenta no cu dos outros, é mesmo refresco.


Em que pese a loirinha no canto da foto, na hora não reparei, e muito menos que ela ria. A situação não era boa. Uma multidão saía louca da Rio Branco, e entrava na Almirante Barroso tentando escapar do gás lacrimogêneo. E quando o vento trouxe o maldito... Comparado a inalar essa porra de gás, pimenta no cu deve ser mesmo refresco. Puta que pariu!